Incubadora é resultado da parceria entre a Umesp, o Instituto Metodista Granbery, a Prefeitura de São Bernardo do Campo e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP), do Ministério da Ciência e Tecnologia.
Livro “Metodologia de Incubação: Experiências de Economia Solidária em São Bernardo do Campo” retrata a experiência com os grupos sob a metodologia aplicada
A gestão compartilhada que muitas vezes ameaça a prosperidade de sócios em negócios particulares não foi obstáculo à convivência harmoniosa de um empreendimento que ganhou propulsão em São Bernardo do Campo: a SBCSol – Incubadora de Empreendimentos Solidários.
Pelo menos 20 projetos que há três anos engrossavam a estatística da economia informal já podem ser categorizados hoje como empreendimentos efetivos de diferentes segmentos, como alimentação, economia criativa, ecoturismo, hortas comunitárias, metalurgia, reciclagem e têxtil, totalizando 215 pessoas beneficiadas.
Muitas delas estavam em situação de total exclusão social – como catadores de lixo, desempregados e trabalhadores de empresa falida – e conseguiram sair da escuridão para cruzar a porta de entrada da SBCSol. As portas laterais foram a FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), que ofereceu suporte financeiro e bolsas de estudos, a Universidade Metodista de São Paulo e o Instituto Metodista Granbery, incumbidos da capacitação e do fomento acadêmico, e Prefeitura Municipal, que cuidou da logística e dinâmica do processo.
“Apenas como exemplo, temos o empreendimento de reciclagem, que contava no momento da entrada com 64 integrantes e renda média de R$ 620 por integrante. Em dezembro de 2014, após dois anos de incubação, são 135 trabalhadores com renda média de R$ 1.340 por integrante”, destacou Oswaldo Martins dos Santos Filho, professor da Faculdade de Administração e Economia da Metodista e coordenador da SBCSol, ao falar no IV Seminário SBCSol dia 15 de maio último, que refletiu sobre os “Avanços e Perspectivas da Política Pública de Economia Solidária no Município de São Bernardo do Campo”.
O projeto foi lançado em 8 de março de 2012 e o balanço de três anos de atividades mostra ter sido bem-sucedido: 18 empreendimentos e 3 redes consolidadas (artesanato, alimentação e reciclagem), capacitação por meio de 10 oficinas gerenciais, biblioteca com 1,2 mil títulos, site, blog e perfil próprio no Facebook, mais de 20 palestras de sensibilização sobre as possibilidades de geração de trabalho e renda, assessoria à legalização que possibilitou nove formalizações como MEI (Microempreendedor Individual) e uma cooperativa, além de duas atualizações jurídica e contábil.
Livros mostram a experiência
Foram também quatro seminários de avaliação, material didático na forma de jogos temáticos e cartilhas de cada empreendimento, além da produção de 10 artigos científicos e 2 livros. “Foi um grande desafio lidar com essa pluralidade, de hortas até metalurgia, e produzir ciência em cima, pois além de montar a metodologia tivemos que implementar a incubadora”, falou a coordenadora técnica da SBCSOL, Vanderleia Lima Sena, reforçada pelo professor Douglas Murilo Siqueira, também professor da FAE Metodista e da coordenação da incubadora:
“Mostramos que a universidade não é uma Torre de Marfim. Além da capacitação, colocamos a experiência em dois livros para divulgar o empreendimento e deixar esse ensinamento para quem quiser seguir o caminho das incubadoras, ainda pouco conhecidas entre os poderes públicos”, citou professor Douglas.
No IV Seminário, realizado no campus Planalto da Metodista, foi lançado o segundo livro sobre o projeto, intitulado “Metodologia de Incubação: Experiências de Economia Solidária em São Bernardo do Campo”. O livro pode ser baixado gratuitamente no site da Editora Metodista. Por meio de ilustrações, a publicação retrata as experiências com os grupos incubados a partir da metodologia aplicada, mostra desde princípios da autogestão até processos de formalização e estruturação. A SBCSol foi relatada pela primeira vez na obra “A Política Pública e o Papel da Universidade”, também lançado pela Editora Educa da Metodista
Modelo inédito
Apoiada nos principais alicerces, que são os ideais de cooperativismo e associações, a SBCSOl não só colocou no centro do alvo pequenos negócios familiares de baixa renda e informais, como adotou um modelo misto por meio de parceria entre poder público e o mundo acadêmico da universidade. É uma concepção inédita no Brasil. Mais do que isso, o modelo foi construído com os próprios participantes, que a partir de suas realidades deram forma às cartilhas, aos manuais e à prática gestora de seus empreendimentos.
A incubadora está institucionalizada na Metodista, em local fixo no campus Planalto, contando com biblioteca e recursos de informática onde são atendidos os incubados. No campus Rudge Ramos está sua coordenação administrativa.
“Não é uma iniciativa trivial. Foram quase 700 pessoas envolvidas, entre 215 incubados e mais de 400 no apoio entre professores, técnicos e estudantes. É exemplo de como as coisas devem funcionar: a união entre governo, academia e sociedade”, descreveu o pró-reitor de Pós-Graduação e Pesquisa da Metodista, Fábio Botelho Josgrilberg.
O economista Paul Singer, secretário nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego, destacou que também no Brasil as incubadoras seguiram perfil diferenciado: em vez dos Estados Unidos que incentivam ideias e empresas emergentes a partir dos melhores cérebros nas universidades, o Brasil optou por ajudar os menos favorecidos, sobretudo com a onda de desemprego surgida pós-choque de petróleo dos anos 70 que repercutiu nos anos 80 e 90.
“Temos hoje 110 universidade no Brasil que apoiam incubadoras, colocando-se a serviço da sociedade por meio de projetos de extensão universitária. A forma mais cruel de exclusão social é o desemprego. Por isso, depois do pioneirismo do Brasil nos anos 90, a economia solidária viceja na França, Espanha, México e Portugal”, citou Singer, que foi o palestrante do evento e sublinhou um dos trabalhos, o de catadores de lixo, que somam 70 mil no Brasil, a maioria mulheres.
“São pessoas resgatadas da exclusão e de uma importância ambiental enorme, pois recolhem o lixo que descartamos e o transformam em fonte de ocupação e renda”, elogiou.
Tanto o secretário de Serviços Urbanos de São Bernardo, Tarciso Secoli, quanto o de Desenvolvimento Econômico, Trabalho e Turismo, Jefferson Conceição, destacaram no encontro que economia solidária tornou-se política pública no Município, apoiada em lei e agora em metodologia. Jefferson antecipou que há 10 APLs (Arranjos Produtivos Locais) em estruturação no Grande ABC que podem ser clientes dos 20 incubados. O secretário Secoli destacou o que chamou de “tecnologia social” desenvolvida pela experiência de cooperativismo e associação em benefício do coletivo. Disse ser essa a inovação obtida pela experiência e que foi cobrada pela diretora da FINEP, Alba Lourenço, para que a entidade apoie trabalhos e projetos inovadores.